Os objetivos do Psicodrama
Este texto constitui um capítulo da dissertação de mestrado “Como os objetivos do psicodrama são percebidos na perspectiva do paciente” de autoria de Maria de Fátima Novaes Marinho. Orientador:Christian Ingo Lenz Dunker. Também foi apresentado a Sociedade de Psicodrama de São Paulo para obtenção do Título de Psicodramatiista Didata.
Agradecimentos a Rosa Cukier, Maria Rita D”Angelo Seixas, Marisa Todescan,Christian Ingo Lenz Dunker e Sérgio Perazzo pelas inúmeras contribições e questionamentos.
1. O resgate da espontaneidade
O conceito de espontaneidade constitui o eixo fundamental da obra de Moreno. Uma das mais conhecidas definições de Moreno referente a espontaneidade diz que esta “(…) é a resposta adequada a uma nova situação ou uma nova resposta a uma situação antiga” (Moreno: 1959a, p.58). Nesse trecho, encontramos dois elementos essenciais da espontaneidade: a adequação e a novidade da resposta. Entretanto, como esses dois elementos aparecem separados pelo “ou”, pode-se compreender precipitadamente que apenas um desses elementos seja suficiente para caracterizar um ato espontâneo. Moreno, por sua vez, deixou claro em muitos outros trechos de sua obra que a espontaneidade abrange necessariamente esses dois elementos. Ele diz: “Originalidade do comportamento não é, em si, uma prova de espontaneidade assim como adequação do comportamento apenas não o é” (Moreno, 1959a, p.58) e ainda em outro trecho: “ A espontaneidade também é a capacidade de um indivíduo para enfrentar adequadamente cada nova situação.” (Moreno,1946, p.132) Podemos pensar que, na primeira citação, a preocupação de Moreno tenha sido a de ressaltar que a espontaneidade ocorre tanto diante de situações bastante conhecidas como diante de situações inéditas.
Um outro ponto importante é esclarecer qual o significado do termo ‘adequado’. Moreno não definiu, claramente, o termo ‘adequado’, mas encontramos vários indícios em sua obra de como vê essa noção. Por exemplo, ele cita que no comportamento do psicótico há muita originalidade, mas não há adequação. Além disso, Moreno coloca que um ser espontâneo é um ser sociável. Ele diz que: “Do contato entre dois estados de espontaneidade que, naturalmente estão centrados em duas pessoas diferentes, resulta uma situação interpessoal” (Moreno, 1946, p. 132). A partir disso, podemos supor, então, que a adequação envolve um contato com a realidade e uma certa capacidade de interação social.
Entretanto, muitas vezes, a espontaneidade tem sido compreendida como o indivíduo tomar as atitudes que quiser, desconsiderando as características do meio à sua volta. Os defensores dessa posição, muitas vezes alegam que Moreno se referiu ao ser adequado a si mesmo. Isso, realmente, é verdadeiro, mas para um indivíduo ser adequado a si mesmo é necessário que consiga transformar as situações que considera insatisfatórias em satisfatórias. Para isso, terá que considerar a realidade à sua volta e a partir dela procurar a melhor forma de interferir e transformar a situação. Quando um indivíduo se comporta desconsiderando a situação em que está inserido e as pessoas envolvidas, ele não favorece a sua própria inserção na rede de relações interpessoais.
Considero importante ressaltar que o objetivo do psicodrama é propiciar a espontaneidade e não a impulsividade, como foi muitas vezes confundido. Moreno diz:
“A conduta desordenada e os acessos emocionais que decorrem das ações impulsivas estão longe de constituir desideratos do trabalho da espontaneidade” (Moreno, 1946, p.175)
A espontaneidade é uma energia que surge no momento e que portanto não pode ser armazenável. Ela aparece de acordo com a necessidade. Assim, em determinadas situações é requerido um maior grau de espontaneidade do que em outras. Por outro lado, existe um outro tipo de energia que é acumulável e transmitida de geração em geração. Quanto a isso, Moreno diz:
“Há um tipo de energia preservável na forma de conservas ‘culturais’, que pode ser guardada ou gasta de acordo com a nossa vontade em partes selecionadas e usadas em épocas diferentes; como um robô a serviço de seu dono” (Moreno, 1934, p. 152).
Nesse trecho, Moreno expressa a idéia de que as conservas culturais — como, por exemplo, informações adquiridas e valores — são armazenadas como uma energia e podem ser resgatadas e utilizadas por nós a qualquer momento.
A criança nasce espontânea, tendo, já ao sair do útero para um mundo completamente diferente, que apresentar uma série de respostas novas e adequadas, como por exemplo começar a respirar. Durante toda a infância, a criança defronta-se com inúmeras surpresas e novidades, que favorecem intensamente a manifestação de sua espontaneidade. Entretanto com o passar dos anos, a espontaneidade começa a ser tolhida. Na maioria das vezes, lhe são impostas regras, modos de se comportar e ensinamentos que entram em choque com suas necessidades naturais e restringem a expressão de sua criatividade e espontaneidade. Tais imposições estão relacionadas às conservas culturais, isto é, a tudo aquilo que foi produzido pelo homem e que se mantém, como, por exemplo, a tecnologia, os valores e normas culturais, as teorias, etc.
Essas conservas culturais são importantes para o homem na medida em que lhe servem de base para um ato espontâneo. Entretanto, se o homem se apega demasiadamente a essas conservas torna-se escravo delas, utilizando-as, sem avaliar se são apropriadas ou não à situação. Moreno fez muitas criticas aos métodos tradicionais de educação, por acreditar que, na maioria das vezes, eles sufocavam a capacidade espontânea da criança.
Moreno comenta que esse apego exacerbado do homem às conservas culturais iniciou-se quando o homem primitivo começou a ter medo de arriscar tudo em algo tão incerto quanto o momento, buscando intensamente formas de conservar os resultados advindos de sua criatividade, ou seja, produzindo conservas culturais. Ele diz:
“A terrível sensação de imperfeição, que os desempenhos momentâneos e improvisados lhe deram, foi sagazmente superada pelo apego a estas muletas tecnológicas e culturais”(Moreno, 1946, p. 130).
Um dos objetivos centrais da psicoterapia psicodramática consiste em resgatar a espontaneidade. Isso se faz necessário em virtude dessa capacidade ter sido cerceada pela sociedade. Moreno fala em ‘resgatar’ porque acredita que o homem nasça espontâneo, sendo o próprio nascimento seu primeiro ato espontâneo. Como instrumento para resgatar a espontaneidade Moreno utiliza-se da ação dramática, isto é, da possibilidade do indivíduo vivenciar situações passadas, presentes ou futuras no ‘como se’ , tendo a oportunidade, então, de encontrar respostas novas e mais satisfatórias para suas dificuldades e seus conflitos e assim tornar-se mais espontâneo. Espera-se que com isso o indivíduo liberte-se de certas conservas culturais que o aprisionam, tornando-o robotizado, repetitivo e pouco criativo. É como se o indivíduo tivesse se tornado amarrado a determinadas formas de comportamento, que foram assimiladas como sendo as certas ou as únicas possíveis. Embora muitas vezes isso não lhe satisfaça, a pessoa tem dificuldade de criar novas soluções. O psicodrama propicia, então, um espaço imaginário, mais seguro e longe da situação real, onde o indivíduo pode experimentar respostas diferentes daquelas que dá habitualmente.
Dentro da concepção psicodramática, enquanto a espontaneidade está associada à saúde, a não espontaneidade é considerada como sinônimo de doença psíquica. Segundo Garrido (1984), a patologia da espontaneidade pode estar ligada tanto à inadequação das respostas como à falta de criatividade das mesmas. No primeiro caso, o indivíduo distancia-se da realidade em que vive, criando um mundo de fantasia. Na segunda situação revela-se um apego grande aos valores e normas culturais (1984, p. 229). Em ambos os casos, o indivíduo não consegue responder de maneira satisfatória às diferentes situações com as quais se defronta e cabe ao psicodrama recuperar a capacidade de ser espontâneo. Quanto a isso, Moreno diz:
“(…) é destituída de valor uma profunda confiança na sábia orientação da natureza, sem a invenção de uma técnica especial do momento para conservar permanentemente a espontaneidade.” (Moreno, 1946, p.198)
Nesse trecho, Moreno deixa claro que, embora todos nós tenhamos potencial para desenvolver a espontaneidade, ela pode encontrar empecilhos que dificultem sua manifestação, tornando-se necessário criar formas de garantir sua preservação. Além disso, fica implícito que a espontaneidade precisa, para se manifestar, de uma condição específica. Em outro trecho, ele explicita qual seria essa condição:
“um tipo de universo aberto(…) em que é continuamente possível um certo grau de novidade (…) Não poderia surgir num universo fechado, isto é, determinado por leis absolutas” (Moreno, 1946, p.138).
É por isso que Moreno propõe o ‘adestramento’ da espontaneidade, isto é, uma maneira sistemática de favorecer o surgimento do estado de espontaneidade. Esse adestramento pode seguir duas direções: do corpo à mente, quando se propõe ações que estimulem a ação dos músculos que por sua vez ativarão o funcionamento da mente e o surgimento de certos estados emocionais; e da mente ao corpo, que se caracteriza por estimular inicialmente o funcionamento mental, propiciando o surgimento de idéias, fantasias e sentimentos e através destes acionar o comportamento corporal (Moreno, 1946, p. 194). No ato espontâneo, mente e corpo, pensamento e ação estão interligados. Entretanto, devido a uma educação que impõe à criança conceitos que não correspondem às suas necessidades, ocorre uma cisão entre aquilo que ela sente e pensa e os seus atos.
Para finalizar quero ressaltar que Moreno considera a espontaneidade e a criatividade como conceitos que estão intrinsecamente ligados. Chegou a dizer que a espontaneidade-criatividade é um conceito gemelar, sendo que a espontaneidade constitui a matriz do crescimento criativo (1924, p. 147).
2. O desenvolvimento de relações télicas
Outro objetivo de grande importância no psicodrama é o favorecimento e o desenvolvimento de um maior número de relações télicas, isto é, relações que se caracterizam pela percepção real e mútua dos participantes. Esse tipo de relação favorece o entrosamento e a integração social. Moreno diz:
“Tele (…) é o cimento que mantém os grupos unidos(…) estimula as parcerias estáveis e relações permanentes” (Moreno, 1946, p.36).
Moreno frisou, em sua obra, a diferença existente entre o conceito de tele e a empatia. A empatia se refere à capacidade de um indivíduo colocar-se no lugar do outro, captando como o outro está se sentindo, enquanto que a tele[1] é a empatia ocorrendo nas duas direções, isto é, um indivíduo percebe e é percebido de maneira objetiva pelo outro. A tele é considerada por Moreno como sendo um conceito social, enquanto que a empatia é considerada como um conceito individual, isto é, refere-se a uma noção psicológica. Em função disso, ele optou por utilizar em sua obra apenas o termo ‘tele’, já que sua teoria está voltada para o estudo das relações interpessoais.
O desenvolvimento de tal conceito deu-se a partir das experiências de Moreno com os mais variados grupos constituídos, por exemplo, por prostitutas (1913-14), crianças (1913-14), refugiados de guerra (1915-17) e mães. Ao coordenar esses grupos, Moreno percebeu a importância das relações interpessoais no processo terapêutico. Ele diz: “Um indivíduo pode ser um auxiliar terapêutico para outro indivíduo” (Moreno, 1959a, p. 168). Em suas experiências com teatro espontâneo, ele percebeu a grande capacidade que os ego-auxiliares tinham de captar os sentimentos do outro ao utilizar técnicas psicodramáticas como, por exemplo, o duplo e a inversão de papéis. Concluiu, então, que tais ocorrências não poderiam se dar ao acaso e que deveria existir algo no ser humano que propiciasse a compreensão mútua e a coesão grupal com as quais estava deparando, e a isso denominou-se ‘tele’.
Além disso, posteriormente, ao criar e aplicar o teste sociométrico, que serve para medir as relações interpessoais, Moreno constatou que as pessoas tinham uma grande capacidade de se perceberem de forma objetiva, comprovando de maneira sistemática a existência da tele: “(…) a tele é algo que emergiu da análise terapêutica de relações inter-pessoais concretas” (Moreno apud Garrido, 1984, p. 196). A partir disso, Moreno concluiu que a tele é “(…) o fundamento de todas as relações interpessoais sadias e elemento essencial de todo método eficaz de psicoterapia” (Moreno, 1959a, p. 52). Assim sendo, a tele é considerada como um critério de saúde mental das relações interpessoais. Como Moreno sempre considerou primordial não perder de vista a idéia de que o homem é um ser social, nada mais natural e esperado do que avaliar o grau de saúde mental a partir do modo como o indivíduo interage socialmente.
Moreno escreveu um poema denominado “Convite ao encontro”[2] em 1914, que retrata de maneira muito apropriada o conceito de tele:
“Um encontro de dois: olhos no olhos, face a face.
E quando estiveres perto, eu arrancarei seus olhos
e os colocarei no lugar dos meus
e você arrancará meus olhos
E os colocará em lugar dos teus,
Então, eu olharei para você com os teus olhos
e você me olhará com os meus (…)”
(Moreno, 1959, p. 22)
Nesse poema, Moreno descreve um encontro em que cada um dos participantes é capaz de se colocar no lugar do outro, de enxergar o que o outro está enxergando, de captar como o outro está se sentindo, enfim, de se relacionar com o outro percebendo efetivamente quem é esse outro. O que Moreno propõe é uma relação plena entre duas pessoas. Isso nada mais é do que uma descrição vívida do conceito de tele.
A tele é um conceito abrangente que envolve aspectos cognitivos, sociais, afetivos e biológicos (Bustos, 1979, p. 17). Assim sendo, a tele não se restringe à limitada percepção que nos é conferida pelos órgãos dos sentidos, mas a uma capacidade global, na qual operam diversas áreas como o pensamento, o sentimento, as sensações corporais, a sociabilidade.
O indivíduo apresenta ao nascer um potencial para desenvolver a tele e à medida que a criança vai estabelecendo relações com o mundo, ela vai desenvolvendo gradualmente essa capacidade. Entretanto, no decorrer de sua vida, podem surgir obstáculos que atrapalhem o funcionamento da tele, provocando uma percepção distorcida e equivocada de diversas situações. A esse fenômeno, Moreno denominou transferência. Trata-se de um fenômeno secundário que desvirtua um fenômeno primário, a tele. Assim sendo, a transferência é a patologia da tele. Enquanto a transferência está ligada a episódios do passado que obscurecem a situação momentânea, a tele opera no aqui e agora, de forma sintonizada com o momento presente.
O psicodrama tem como meta eliminar ou diminuir a incidência de elementos transferenciais nas relações interpessoais, propiciando um maior grau de tele. Assim sendo, sempre que o terapeuta perceber que há uma relação transferencial deverá apontar o que está ocorrendo, procurando discernir junto com o cliente quais são as distorções apresentadas e como se originaram. Isso pode ser feito verbalmente ou através da dramatização.
No caso da dramatização, existe uma série de técnicas psicodramáticas como por exemplo o duplo, o espelho e a inversão de papéis, que auxiliam o paciente a se dar conta dos elementos transferenciais e a estabelecer relações entre eles e as experiências que os originaram. O espaço dramático permite, também, que o indivíduo reviva, reelabore e resignifique as relações primárias que se entrecruzaram e se mesclaram às relações atuais, obstruindo-as e distorcendo-as.
Quando trabalhamos verbalmente, procuramos destacar para o paciente os elementos de seu próprio discurso que assinalam a possibilidade de uma relação transferencial. Por exemplo, se o paciente diz que sua irmã não gosta dele, mas por outro lado narra episódios em que sua irmã demonstra estar preocupada com ele, o terapeuta irá apontar tal fato. Como o próprio Moreno dizia, mesmo nas relações transferenciais sempre haverá algum grau de tele operando, isto é, seremos sempre capazes de absorver, pelo menos, uma pequena parcela do mundo que nos cerca, de forma objetiva. O terapeuta deverá, então, utilizar-se dos resíduos de tele que por ventura estejam em ação, como um auxilio para eliminar os elementos transferenciais.
É importante ressaltar que o conceito de transferência tal como foi concebido por Moreno também é um fenômeno interpessoal, assim como a tele, ou seja, tanto o cliente como o terapeuta estão sujeitos a transferir, distorcendo a imagem do outro. Moreno diz:
“ O psiquiatra também projeta suas fantasias no paciente. A transferência desenvolve-se em ambos os pólos (…) A análise deveria ser efetuada a partir de ambos os extremos da linha” (1946, p. 285).
Assim sendo, o psicodramatista deve ficar atento à relação interpessoal cliente – terapeuta como um todo, englobando tanto os fenômenos télicos como os transferenciais dos dois lados.
Por outro lado, embora Moreno demonstre uma certa preocupação com a transferência, ele afirma que ela “desempenha um papel definido, mas limitado nas relações inter-pessoais” (1946, p. 286). Tal conclusão baseou-se nas observações que fez trabalhando com grupos diversos e aplicando o teste sociométrico. Ele constatou que a maior parte das escolhas interpessoais não estão baseadas em fantasias transferenciais, mas sim em atributos reais da pessoa escolhida, ou seja, na tele-relação. Consequentemente, a tele passa a ser vista como “o processo interpessoal geral de que a transferência é uma excrescência psicopatológica especial” (Moreno, 1946, p. 289). O psicodrama, por sua vez, procurará favorecer o surgimento de relações télicas, para as quais o indivíduo já apresenta um potencial, e tratar ou eliminar os elementos transferenciais que estejam ocasionalmente prejudicando o funcionamento do fator tele.
2.1. Discussões referentes ao conceito ‘tele’
Alguns autores, como Sérgio Perazzo (1989/94) e Moysés Aguiar (1990), têm demonstrado preocupação em elucidar melhor o significado do conceito de tele. Tal fato é decorrente de terem percebido que Moreno apresenta esse conceito de várias formas no decorrer de sua obra, sendo necessário um estudo mais minucioso para tirar conclusões a respeito de seu significado e de sua aplicação.
Procurarei agora apresentar alguns desses problemas conceituais e colocar minha posição a respeito dos mesmos. Quero deixar claro que não tenho a pretensão de esgotar a discussão desse tema no presente trabalho, já que isso implicaria uma revisão detalhada da utilização do termo ‘tele’ em toda a obra moreniana, o que não constitui o objetivo do mesmo. Pretendo apenas abordar os aspectos relevantes para este trabalho, me posicionando em relação aos mesmos.
Perazzo observa que na obra de Moreno:
“(…) tele ora é definida como um fator, à semelhança do fator ‘e’ (espontaneidade), que próprio do indivíduo, é capaz de atuar num dado momento numa dada relação, sendo responsável pela força de coesão de um grupo ou pela estabilidade desta mesma relação, ora como um canal de comunicação e expressão desobstruído de transferências e que viabiliza o encontro” (1994, p. 35).
Considero tal colocação como sendo bastante pertinente por evidenciar que Moreno, embora salientasse em muitos trechos de sua obra a dimensão relacional do conceito de tele, em outros momentos parece ter se esquecido disso, referindo-se a ele como um potencial individual. Entretanto, embora seja indiscutível que aí está presente uma incongruência do ponto de vista conceitual, se olharmos a obra de Moreno como uma totalidade encontraremos um sentido para isso.
Moreno sempre acreditou que o ser humano tem um potencial para se relacionar com o outro, estabelecendo trocas e sendo capaz de perceber o que o outro está sentindo e se colocar no lugar do outro. Nesse sentido, tele é uma capacidade, um potencial que caracteriza a concepção de homem de Moreno. Porém, a tele só pode se concretizar e tomar forma a partir das relações interpesssoais. A sua manifestação só é possível na relação com o outro.
Outro ponto polêmico diz respeito à objetividade inerente ao conceito de tele. Moreno diz: “ [a tele] repousa no sentimento e conhecimento da situação real de outras pessoas” (1959a, p. 52). Surgem então algumas questões: será possível captar a situação real das outras pessoas? O que Moreno quer dizer com realidade? Para melhor entendermos o que Moreno quis expressar com isso, proponho que consideremos o contexto histórico em que tal afirmação surgiu. Moreno viveu em Viena cercado por um ambiente intelectual fortemente influenciado pela psicanálise. Ao desenvolver sua teoria, utilizou muitas vezes como contraponto o pensamento e a prática psicanalítica. Ao construir o conceito de tele, ele procurou ressaltar o fato de que nem tudo o que paciente percebia a respeito de seu psicanalista estava relacionado com figuras do seu passado, mas sim que uma grande parte se referia aos atributos próprios do analista.
Assim sendo, Moreno emprega a noção de realidade em contraponto com as idéias psicanalíticas de fantasia e de transferência. É como se ele nos alertasse no sentido de que nós estamos conectados com o mundo que nos cerca e que os elementos que fazem parte desse mundo repercutem de maneira significativa em nossos pensamentos, sentimentos e ações. Não vivemos apenas em um mundo de fantasia. Por tudo isso, não interpreto a fala de Moreno em um sentido purista, em que o objeto e a imagem formada do objeto seriam idênticos, mas sim no sentido de que as características de ambos os elementos têm sua importância no desenrolar da relação.
Como Sérgio Perazzo aponta: “numa relação, cada componente é ao mesmo tempo objeto e percepto um do outro” (1994, p. 41). Assim sendo, torna-se impossível falar de uma percepção estática de um em relação ao outro, na medida em que existe um dinamismo da relação, no qual um continuamente afeta e é afetado pelo outro. Isso, entretanto, não implica descartar o fato de que as características próprias dos elementos que estão em relação tenham grande importância no modo como a relação se configura e se desenvolve. Por outro lado, significa aceitar a idéia de Moysés Aguiar de que “a percepção correta é puro mito” (Aguiar, s.d., p. 9). Perazzo dá uma grande contribuição ao refletir sobre essa questão, ele diz:
“Não sendo possível ver o outro como ele é, talvez numa situação de encontro o que seja possível é ver a relação como ela está naquele momento para vivê-la na disposição que entendamos ‘por inteiro’ num pequeno fragmento temporal” (1994, p.41).
Nesse trecho, Perazzo ressalta dois aspectos relevantes da tele: seu caráter relacional e sua dimensão temporal. Nós não captamos o outro como um objeto isolado, mas sim como alguém com o qual interagimos. Ademais, essa interação se dá no aqui e agora. O que sou em uma dada relação hoje não é o mesmo que ontem nem será o mesmo que amanhã.
Outro ponto que provoca confusão ao lermos a obra de Moreno é que em certos trechos ele se refere à tele em relação a objetos e animais enquanto em outros momentos enfatiza a mutualidade como característica essencial da tele. Surge então uma questão: é possível ocorrer mutualidade ou reciprocidade entre um indivíduo e um objeto inanimado como por exemplo uma obra de arte? Acredito que não. Então porque Moreno faria tal colocação? Penso que aqui surge de novo o problema da referência à tele ora como uma capacidade do indivíduo, ora como um fenômeno relacional. Quando se refere aos objetos, ele faz referência à tele como um fator, uma potencialidade que existe em cada um de nós para captar o mundo que nos cerca, inclusive os objetos inanimados. Ao se referir à capacidade de coesão e compreensão entre duas ou mais pessoas concebe-se tele enquanto fenômeno relacional.
Como já foi apontado anteriormente, é a existência do fator tele que torna possível a emergência e o desenvolvimento das relações tele. As referências de Moreno à ‘tele para objetos’ e à tele para animais’ estão em sua maioria associadas às suas explicações sobre a forma como a tele se desenvolve no ser humano. Ao nascer, o bebê ainda não consegue perceber os limites que o separam do mundo externo. Mais tarde começa a distinguir os objetos inanimados dos animados, apresentando uma tele rudimentar. Posteriormente, irá se aprimorar mais, de tal modo que será capaz de distinguir os objetos reais e imaginários e desenvolver uma tele positiva e negativa.
Podemos notar que Moreno está se referindo à tele como um fator que se desenvolve durante a infância e que nos possibilita apreender melhor o mundo que nos cerca. Esse fator seria a base, o alicerce que nos possibilita estabelecer relações télicas na vida adulta. Assim, ao buscar explicar a origem e o desenvolvimento das relações tele, Moreno comete novamente uma contradição em termos conceituais, utilizando a mesma palavra para descrever um fator individual e um fenômeno relacional.
Por outro lado, Moreno explica muito bem como se dá o desenvolvimento da capacidade télica na infância, mostrando que a criança gradualmente vai percebendo melhor o outro, tornando-se possível a relação télica. Levando isso em conta, podemos dizer que tal contradição não repercute no valor das idéias apresentadas por Moreno, constituindo apenas um problema de terminologia, que exige uma maior atenção do leitor.
Por fim, gostaria de ressaltar que os problemas conceituais encontrados não diminuem o valor do criador do psicodrama nem de sua obra, mas constituem reflexos do percurso percorrido por Moreno para desenvolver a teoria e a técnica psicodramática. Como sabemos, o psicodrama foi construído aos poucos a partir das observações e experiências de Moreno. Com certeza não foi um processo linear, mas sim um processo de idas e vindas, de caminhos e descaminhos que se revelam quando lemos a obra de Moreno.
3. A catarse de integração
A psicoterapia psicodramática visa também a possibilitar a catarse de integração, isto é, a integração, a apropriação e a clarificação de aspectos que antes pareciam estranhos ou obscuros ao sujeito ou ao grupo, levando a uma transformação efetiva, significativa a partir da ação dramática.
Moreno procurou ressaltar a amplitude desse conceito, destacando suas diversas dimensões.
“A teoria psicodramática desenvolveu a idéia de catarse em quatro direções: a somática, a mental, a individual e a grupal” (Moreno, 1946, p. 65).
Aqui, Moreno demonstra considerar que a catarse não se dá apenas no plano individual, com o ator que representa seu drama, mas também no plano grupal, na medida em que se irradia e se espalha pela platéia. Além disso, ele aponta para a importância tanto do corpo quanto da mente nesse processo.
Moreno demonstrou ter uma certa preocupação com a forma como esse termo era compreendido. Ele disse:
“O método psicodramático é, muitas vezes classificado entre os métodos catárticos. Não é exato. O efeito catártico de ab-reação pertence também ao processo terapêutico. Mas o fator decisivo é a integração sistemática de toda a cadeia seguinte: o psicodrama é composto de cenas estruturadas, cada cena de papéis estruturados e cada papel de ações estruturadas” (Moreno, 1959a, p. 79).
Bustos também fez questão de salientar a relevância do aspecto integrador do psicodrama :
“A catarse é somente o cume de um processo, a integração é o próprio processo, gradual, às vezes lento e penoso. O conflito inicial pode estar, em geral, condensado em um sintoma, uma inibição, um mal-estar vago. Lentamente, na sessão de psicodrama esta condensação desaparece para começarem a aparecer aspectos claros. Até encontrar-se em cena todos os elementos que constituíam a origem do conflito” (Bustos, 1979, p. 80).
Essas duas citações deixam claro que o objetivo fundamental do psicodrama não se limita à expressão intensa de sentimentos e emoções. Embora tal tipo de catarse emocional ocorra com freqüência, essa só cumprirá seu papel se propiciar ao sujeito ou ao grupo uma maior compreensão de suas experiências. Assim, esse conceito difere claramente da noção de catarse empregada pela psicanálise.
Moreno relaciona a catarse com a visão de um novo universo e a viabilidade de um novo crescimento (1946, p. 65). Assim sendo, a catarse de integração tem um efeito transformador, já que possibilita a apreensão de novos aspectos da realidade vivida, bem como de novas possibilidades, impulsionando o indivíduo para o crescimento.
Moreno não tomou como ponto de partida a catarse de ab-reação (Freud, Breuer, 1893), mas sim a catarse aristotélica que ocorre no espectador ao assistir uma peça teatral. Entretanto, ele considerou que tal forma de catarse era muito passiva e procurou transformar o espectador em possível ator e criador. Assim nasceu o conceito de catarse de integração como um conceito próprio do psicodrama (Almeida, 1982, p. 44). Com relação a isso, Moreno afirma:
“E, de acordo com esta análise tem lugar a catarse (primária): mas não só no espectador (efeito desejado secundário) e nas dramatis personae de uma produção imaginária mas nos atores espontâneos do drama, que produzem os personagens libertando-se deles ao mesmo tempo” (1946, p. 64).
Nesse trecho, além de Moreno mostrar que está buscando um tipo de catarse diferente da aristotélica, ele aponta para as conseqüências disso. A partir do momento em que as personagens constituem uma criação espontânea dos atores, esses se vêem de tal forma envolvidos com o drama que as exploram intensamente, ao ponto de descobri-las e desmistificá-las, libertando-se delas.
Wilson Castelo de Almeida (1982) salienta a importância da catarse de integração como método peculiar e principal da cura psicodramática. Tomando como referência sua experiência clínica, ele propôs uma classificação da catarse de integração em três tipos: resolutiva, evolutiva e revolutiva.
A catarse de integração resolutiva ocorre de maneira rápida, súbita, em decorrência de um ato dramático. A partir de uma experiência dramática profunda, o indivíduo sai revigorado, iluminado e aberto a novas experiências, a novas formas de agir. Seu efeito é duradouro. Podemos dizer que se assemelha a um relâmpago que de uma hora para outra nos possibilita visualizar uma grande área antes desconhecida.
As catarses de integração evolutiva são aquelas que vão ocorrendo gradualmente durante o processo terapêutico, isto é, a cada ato dramático ou a cada sessão o indivíduo ou grupo descobre algo novo que repercute no seu processo de transformação.
A catarse de integração revolutiva é aquela “que o revoluciona interiormente, sensibilizando-os para novos e oportunos aprofundamentos psicológicos e relacionais” (Almeida, 1982, p. 50). Ela representa um despertar do indivíduo para um novo aspecto a ser trabalhado. É um “dar-se conta” intenso de algo que precisa ser encarado. É um marco no processo terapêutico.
Rapidamente pude identificar em minha prática profissional a catarse evolutiva e a resolutiva e pude confirmar a observação de Almeida de que a primeira é muito mais freqüente que a segunda. Entretanto, tive maior dificuldade em detectar a terceira forma, por não ter percebido inicialmente a diferença entre a catarse evolutiva e a catarse revolutiva de maneira clara. Relendo o texto de Almeida e observando mais atentamente o que ocorria na clínica pude perceber as diferenças e semelhanças existentes. Os dois tipos dependem de uma continuidade para garantirem um efeito mais significativo. Entretanto, enquanto a catarse evolutiva se refere a catarses parciais que vão se somando como se fossem partes de um quebra-cabeça, a catarse revolutiva é aquela que impulsiona o indivíduo a iniciar o desvelamento de alguma temática.
Como assinala Bustos, Moreno não se deteve em investigar os tipos de catarse, apresentando apenas algumas definições gerais (1979, p.80). Entretanto, podemos encontrar indícios de que Moreno deparou com algo semelhante à catarse evolutiva, descrita por Almeida. Ele diz:
“Há numerosos elementos capazes de produzir uma catarse parcial. Mas, pela integração sintética de todos os elementos, pode ser obtida a catarse total” (1946, p. 66).
Aqui, Moreno demonstra perceber a existência de catarses parciais, que são características da catarse evolutiva. Além disso, ele aponta para a possibilidade de integrar todos os elementos produzindo uma catarse total, o que corresponderia ao ápice da catarse evolutiva.
OBSERVAÇÃO: Se você tiver interesse em ler a dissertação na íntegra, clique no link abaixo:
BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, Moysés (s. d.). “A evolução dos conceitos de tele e transferência”. In: Rev. Momento. Buenos Aires, 3(5):8-10.
______ (1990). O teatro terapêutico – escritos psicodramáticos. Campinas, Papirus.
ALMEIDA, Wilson C. (1982). Psicoterapia aberta: o método do psicodrama. São Paulo, Ágora.
_______ (1990). O que é psicodrama. São Paulo, Brasiliense.
_______ (1991). Moreno: encontro existencial com as psicoterapias. São Paulo, Ágora.
ALVES, Luiz Henrique & Gioia, Heloísa Cristina Krisztan. (1985). Análise das fases de desenvolvimento de um grupo de terapia de adultos segundo as teorias Matriz de Identidade e Núcleo do Eu. São Paulo, Instituto Sedes Sapientiae.
ANCELIN-SHUTZENBERGER, Anne (1970). O teatro da vida. São Paulo, Duas Cidades.
BUSTOS, Dalmiro M. (1979) O teste sociométrico. São Paulo, Brasiliense. Trad. Antonio Marcello Campedelli.
_______ (1982). O psicodrama: aplicações da técnica psicodramática. São Paulo, Summus, 2ª ed. Trad. Lúcia Neves.
_______ (1992). Novos Rumos do Psicodrama. São Paulo, Ática. Trad. Maria Alice Ferraz Abdala.
CHIZZOTTI, A. (1991) Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo, Cortez Editora.
FONSECA FILHO, José de Souza (1980). Psicodrama da loucura: correlações entre Buber e Moreno. São Paulo, Ágora, 3ª ed.
GARRIDO-MARTIN, E. (1984). J. L. Moreno: Psicologia do encontro. São Paulo, Duas cidades. Trad. Maria de Jesus A. Albuquerque.
GONÇALVES, CAMILA S. (1988) Lições de Psicodrama – Introdução ao pensamento de J. L. Moreno. São Paulo, Ágora.
________ (1990). “Epistemologia do psicodrama: uma primeira abordagem”. In: NAFFAH NETO, Alfredo. O psicodramaturgo J. L. Moreno (1889-1989). São Paulo, Casa do Psicólogo.
KESTEMBERG, E. & JEAMMET, P. (1989). O psicodrama psicanalítico. Campinas, Papirus. Trad. Rosana Guimarães Dalgalarrondo.
LUDKE, M. & ANDRE, M. E. D. (1986). A Pesquisa em educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo, E.P.U.
MACEDO, Shirley Martins (1998). A relação terapêutica na abordagem centrada na pessoa – Compreendendo fenomenologicamente depoimentos de clientes. Tese de mestrado. PUC, Campinas, 184 p.
MARCONI, M. A. & LAKATOS, E. M. (1990). Técnicas de Pesquisa. São Paulo, Atlas.
MARINEAU, René F. (1992) Jacob Levy Moreno, 1889-1974: Pai do psicodrama, da sociometria e da psicoterapia de grupo. São Paulo, Ágora. Trad. José de Souza Mello Werneck.
MARTINS, J. & BICUDO, M. A. V. (1994). A pesquisa qualitativa em psicologia- fundamentos e recursos básicos. São Paulo, Moraes, 2ª ed.
MENEGAZZO, Carlos M. e outros (1995). Dicionário de psicodrama e sociodrama São Paulo, Ágora. Trad. Magda Lopes, Maria Carbajal e Vera Caputo.
MONTEIRO, A. e BRITO, V. (dez/1998). “Método, metodologia e pesquisa qualitativa em psicodrama”. In: Leituras (25). São Paulo, Companhia de teatro espontâneo.
.
MORENO, Jacob. L. (1920). As palavras do Pai. Campinas, Editorial Psy, 1992. Trad. José Carlos Landini & José Carlos Vitor Gomes.
________ (1924). O teatro da espontaneidade. 2 ed. São Paulo, Summus, 1984. Trad. Maria Silvia Mourão Neto.
________ (1934). Quem sobreviverá. Trad. Alessandra Rodrigues de Faria, Denise Lopes Rodrigues e Márcia Amaral Kafuri. Goiânia, Ed. dimensão,1992.
________ (1946). Psicodrama. São Paulo, Cultrix, 1993, 9ª ed. Trad. Álvaro Cabral.
________ (1959a) Psicoterapia de grupo e psicodrama: Introdução à teoria e à práxis. São Paulo, Mestre Jou, 1974. Trad. Antonio C. Mazzaroto Cesarino Filho.
________ (1959b). Fundamentos do psicodrama. São Paulo, Summus, 1983. Trad. Maria Silvia Mourão Neto.
NAFFAH NETO, Alfredo (1980). Psicodramatizar: ensaios. São Paulo, Ágora.
________ (1982). “O psicodrama contemporâneo”. In: PORCHAT, Ieda (org.). As psicoterapias hoje. São Paulo, Summus, 2ª ed., p. 49-67.
PERAZZO, Sergio (1989). Revisão crítica dos conceitos de tele e transferência. São Paulo, Temas.
________ (1994). Ainda e sempre psicodrama. São Paulo, Ágora.
ROJAS-BERMUDEZ, Jaime (1977). Introdução ao Psicodrama. São Paulo, Editora Mestre Jou. Trad. José Manoel D’Alessandro.
SEIXAS, Maria Rita. (1992) Sociodrama Familiar Sistêmico. São Paulo, Aleph, 2ª ed.
VOLPE, Maria Regina H. B (1982). A criança, sua doença e sua família: a pesquisa da matriz de identidade através do psicodrama. Tese de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
[1] Nas traduções da obra de Moreno o termo tele aparece ora como substantivo masculino ora como feminino, não havendo consenso sobre o seu gênero gramatical. Neste trabalho, optei por utilizar o gênero feminino.
[2] O título original desse poema em alemão é “Einladung zu einer Begegnung”. Nas traduções para o português, ele aparece ora como “Convite ao encontro” ora como “Divisa”. No meio psicodramático, ele é predominantemente referido como “Convite ao encontro”.